quarta-feira, 13 de julho de 2011

essas imagens dentro da gente

p.o'sagae,sp

Eu fui e voltarei. A exposição de ilustrações de livros Linhas de Histórias que o SESC-Belenzinho oferece, até 28 de agosto, em São Paulo, é uma deliciosa viagem através de reproduções de desenhos, rascunhos, originais e instalações pelo imaginário visual da literatura infantil brasileira dos últimos 40 anos. Ontem aconteceu a abertura da mostra e, entre encontros e reencontros com pessoas que aprendi a admirar “dentro” dos livros, obviamente não deu para ver tudo o que ali está ao alcance do olhar.


Em um espaço bastante amplo, a exposição divide 53 ilustradores em seis corredores temáticos. O primeiro é dedicado ao livro-imagem e estão, logo à entrada, reproduções das delicadas páginas de O caminho do caracol, de Helena Alexandrino. Os demais corredores exibem trabalhos na linha do humor, os experimentais, ilustrações que resgatam a tradição do artesanato, a cultura brasileira e, por fim, onde cheguei puxado pelas mãos de Elisabeth Teixeira, os clássicos e os contos de fadas.

Passei mais tempo no corredor de cultura brasileira. Quatro gaveteiros tipo mapoteca ali estão: as pessoas debruçavam-se para espiar. A primeira reação foi estranhamento, afinal, pareciam analisar... Uma tíbia, o úmero, toda a arcada óssea de algum ilustrador? Nada disso, esse é um espaço para quem gosta de outras arqueologias, encontrando nas gavetas, um rascunho, estudos, desenhos que se modificam traço a traço, a arte final e a página impressa, permitindo que os visitantes “curtam” o processo de criação de alguns ilustradores, como Roger Mello, Nelson Cruz, Maurício Negro, Pedro Rafael, entre outros... E foi muito bom rever o material de Ciça Fittipaldi que, em 1992, creio, o SESC Consolação exibiu em seu saguão de entrada.

Dupla viagem, nas etapas daquilo que os livros escondem e naquilo que o tempo congelado em cada fragmento de papel revela. O quinto corredor é passagem para curiosos e pesquisadores do que se convencionou chamar de crítica genética.

Em outro espaço, ficam as instalações. Brincando com as ideias e as imagens dos livros, você pode passear sobre as pegadas de Juarez Machado (início e final do Ida e volta em cima do piso de vidro, acima da piscina do SESC!), ou adentrar na caixa de cores que, de alguma forma endurecida e fria, evoca o desterro de Flicts rumo a lua. Ou postar-se e portar-se como dentro das páginas de O rei de quase tudo, com desenhos de Eliardo França. Ou girar, girar, girar os zootrópios com a Bruxinha, de Eva Furnari ;-) Ou capturar o movimento das cortinas translúcidas que reproduzem a leveza dos Cânticos de Angela-Lago. Todas essas experiências, ainda que tecnicamente simplórias ou distantes do livro em seu formato convencional de papel, são portas para reconhecermos a transitoriedade do suporte físico do códex e a necessidade de investigação sobre os ambientes imersivos para a criação ficcional. Que venham novos livros, ou outras coisas, não sei... O que resiste é um gesto invisível de cada artista.

Por falar em livros... Senti a falta deles espalhados pela exposição. Gosto muito de ver, ler, comparar o desenho, o original, a arte com a reprodução impressa no lugar que lhe coube na página. Só assim faz sentindo pensar em ilustração. Também senti a falta de muitos nomes nesse panorama do livro ilustrado brasileiro... e de um catálogo gorducho. Nada disso particularmente representa crítica ou azedume. Apenas palpites. E é bem mais um motivo para imaginarmos as Linhas de Histórias em sua segunda edição no próximo ano ;-) ou biênio. A curadoria artística e o investimento do SESC, nesse setor, nos dão bastante alegria! São Paulo anda carente de eventos de relevância cultural no que toca a literatura para crianças e seus autores. Vamos lá prestigiar!

Ah, e as fotos?
Elas estarão espalhadas na rede, logo mais, tenho certeza.
Então, linkarei, linkarei, linkarei...
Não deixe de ver a [reportagem videográfica] de Cristiane Rogério.

3 comentários:

  1. Boa noite!

    Estava procurando matérias e notícias sobre essa exposição e me deparei com o seu blog.

    Li seu post e fiquei encantada em saber que mais pessoas se sentiram tocadas por esse panorama da ilustração infanto-juvenil.

    Só gostaria de fazer uma pequena correção: no final do primeiro espaço expositivo, depois dos Clássicos e Contos de Fadas há uma rampa que dá acesso a biblioteca da exposição. Nela é possível encontrar os títulos expostos; inclusive os livros homenageados (Flicts, O Rei de Quase Tudo, A Bruxinha Atrapalhada, Cântico dos Cânticos e Ida e Volta). Vale muito a pena passar algumas horas degustando os livros disponíveis.

    Parabéns pelo blog. Espero passar por aqui mais vezes.

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  2. Camila, obrigado por nos ensinar o caminho até os livros na exposição!

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  3. fui lá rever, valeu a pena.tanta coisa que eu não tinha percebido na inauguração!Gostei de achar gavetas com croquis,provas, etc.Foi bom conversar com os monitores,super preparados.quanto aos livros, continuo sentindo falta(dentro das gavetas, encontrei um ou outro,mas sem poder folhear).Por ter lido aqui sobre a biblioteca, fui procurá-la(sim, é preciso procurar e perguntar).Infelizmente não consegui chegar aos livros,a tal rampa não é muito amigável pra quem tem dificuldade de locomoção.Ainda acho que os livros deveriam estar próximos de seus originais de ilustração.Lembrei dos caracóis da ilustração, na Monteiro Lobato: mesmo com pouquíssimos recursos pra montagem, a Ana Lúcia não descuidava de detalhes como esse,os livros ficavam pendurados por barbantes juntinho das ilustrações, e era muito legal pra entender as imagens dentro do contexto.Quem sabe a turma do sesc ainda resolve pensar em uma solução...

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