quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Google e os livros

Jornal do Brasil/JB Ideias, 17/05/2010 - por Antônio Campos


Depois do Orkut e do e-mail que nunca está cheio (o Gmail), um dos últimos projetos do Google é a ferramenta Google Book Search, inaugurada em novembro de 2005. Outro projeto é a venda de livros eletrônicos (e-books), através do Google Editions, que começa ainda este ano. Assim, o Google está fazendo a maior biblioteca e o maior negócio livreiro do mundo.

A maior companhia da Internet tem uma meta nada modesta nesse ramo: quer digitalizar praticamente todos os livros do planeta. Segundo dados do Online Computer Library Center (CLC), dos 55 milhões de títulos existentes no mundo, 10% representam o catálogo ativo das editoras; 15% caíram em domínio público e 75% – ou 40 milhões – são livros não mais comercializados, mas que ainda não estão em domínio público. O foco inicial do Google são esses dois últimos grupos. No fim de 2009, o total de exemplares convertidos em bits pela empresa já havia alcançado os 10 milhões. Os engenheiros da Google criaram um método específico de digitalização, em que mil páginas são escaneadas por hora. O Google Book investe em parcerias com bibliotecas no sentido de digitalizá-las.

Tal iniciativa gerou uma demanda judicial nos Estados Unidos que acabou em acordo e que está sujeito à aprovação do Tribunal Distrital dos Estados Unidos pelo Distrito Sul de Nova York (o texto integral do acordo pode ser lido em www.googlebooksettlement.com/agreement.html).

O modelo de negócio do Google tem gerado controvérsias relacionadas à infração de direitos autorais, questões de monopólio e privacidade. O historiador e estudioso dos livros Robert Darnton, autor da obra A questão dos livros, fala do papel das bibliotecas e a iniciativa de digitalização de livros do Google: “O Google tem feito um trabalho maravilhoso de digitalização do acervo dessas bibliotecas. Mas, como toda empresa privada, tem por objetivo dar lucro a seus acionistas. Os objetivos das bibliotecas são distintos – entre eles, oferecer conhecimento público. Esse conhecimento não pode ser detido por uma empresa só. O acordo sobre direitos autorais do Google configura uma situação de monopólio”.

Darnton também explicita a falta de critérios da digitalização realizada pelo Google, que não tem bibliógrafos no seu quadro funcional: “O Google emprega milhares de engenheiros, mas até onde sei, não tem nenhum bibliógrafo em sua equipe. Seu descaso com qualquer preocupação bibliográfica visível é particularmente lamentável, tendo em vista que a maioria dos textos, como acabo de argumentar, foram instáveis por boa parte da história da imprensa”.

O Google está criando um comunicador universal com o seu tradutor de línguas. Atualmente, traduz 52 línguas. E mais: no Google estão sendo armazenadas as biografias das pessoas no mundo contemporâneo. O livro “Google: o fim do mundo como o conhecemos” de Ken Auletta merece ser lido.

É de se preocupar que um empreendimento comercial detenha o controle de tanta informação. O Google já está sabendo mais a nosso respeito que a Receita Federal, por exemplo. Precisamos que a sociedade da informação na qual vivemos seja a mais democrática possível e que não seja monopólio de ninguém. Vamos cobrar do Google que siga fielmente seu lema formal “organizar a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil” e o informal “não faça maldade”.

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